Entenda como estudos da Unicamp sobre zika vírus há 10 anos abriram caminho para enfrentamento da Covid-19
24/04/2025
(Foto: Reprodução) Universidade montou rede pioneira de pesquisa com 35 grupos. Investigações passaram por sequenciamento genético, vacinas e análise dos efeitos do vírus no sistema nervoso. Pesquisadores da Unicamp descobriram como cepa brasileira do zika vírus age no cérebro
Arquivo pessoal
Há quase uma década, quando o Brasil enfrentava uma onda de infecções pelo zika vírus e via crescer o número de bebês nascendo com microcefalia, um esforço coletivo de cientistas da Unicamp se tornou decisivo para entender a doença. Anos depois, isso ajudou o país a responder de forma mais rápida à pandemia de Covid-19.
Foi em meio ao avanço do zika que a universidade montou uma rede pioneira de pesquisa com 35 grupos atuando em diferentes frentes, conforme relembra Marcelo Lancellotti, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp.
"Hoje você tem um genoma de vírus em horas. Há dez anos você precisava de meses para ter esse tipo de coisa. Hoje você consegue isso com uma eficácia muito maior e numa velocidade muito mais rápida e muito mais barato", detalha o pesquisador.
As investigações passaram por testes moleculares, sequenciamento genético, desenvolvimento de vacinas e análise dos efeitos do vírus no sistema nervoso.
"A gente acompanhou todas aquelas gestantes que foram infectadas por zika na gestação. Conseguiu estabelecer modelos de infecção, entender o impacto dessa infecção em células neurais, quais as consequências, os danos para a placenta durante o desenvolvimento fetal", conta o também pesquisador José Luiz Modena.
Em laboratório, os cientistas chegaram a infectar células com glioblastoma — tipo mais comum e agressivo de tumor cerebral — com o vírus da zika e observaram que ele eliminava as células cancerígenas sem afetar as saudáveis.
Essas experiências serviram de base para o enfrentamento da Covid-19. “Graças a esse primeiro treinamento com o zika, a gente conseguiu enfrentar também prontamente o Covid, graças aos estudos do que era vírus. Se essa pandemia de Covid tivesse sido antes do zika, a coisa teria sido bem pior”, destaca Lancellotti.
Apesar de o zika vírus circular atualmente com uma taxa de incidência “muito baixa”, os pesquisadores frisam a necessidade de cuidados, em especial diante de outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
“O zika vírus ainda existe, mas um patógeno é substituído por outro. Acho que eu não preciso nem falar quem substituiu o zika vírus devido à pandemia de dengue em que a gente se encontra", afirma o professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas.
Laboratório que estuda a zika, na Unicamp, em Campinas
Reprodução/EPTV
Reflexos para a vida inteira
Após nove semanas de investigação, médicos confirmaram que o quadro de Lorenzo, filho de Patrícia Campassi, foi causado pelo zika vírus. Ele nasceu com uma condição neurológica severa, que reduziu a mobilidade e comprometeu a fala e a alimentação.
"Já são quase dez anos aí, em outubro ele completa dez anos. Então assim, para mim a realidade é natural, eu consigo levar tranquilamente, não mudaria nada", garante a mãe.
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Campassi, porém, destaca a importância de manter os cuidados contra o zika vírus diante dos impactos que a infecção pode ter na saúde, especialmente para gestantes e bebês.
"Eu fico impressionada como que pode, realmente, em pouco tempo, um mosquito vir e fazer esse rebulício. As crianças viriam com nenhuma sequela e um mosquito atrasou tudo isso na vida deles. E simplesmente hoje você não se ouve falar", diz.
Patrícia Campassi com o filho, Lorenzo; condição neurológica do menino foi causada pelo zika vírus
Reprodução/EPTV
*Estagiária sob supervisão.
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